domingo, 22 de janeiro de 2017

A testadora de profissões

O dia havia amanhecido chuvoso e frio, como Carol gostava. Era nesses dias que conseguia se vestir e exercer a profissão de que mais gostava: bibliotecária. Amava essa profissão porque, ao descobrir livros novos, descobria novas profissões para vestir.
Seu guarda-roupa continha, além dos uniformes mais tradicionais, roupas que poderiam ser usadas tanto no trabalho quanto no dia a dia. Quando escolhia ser cuidadora de animais, já aproveitava a informalidade da roupa para, ao final do dia, dar uma volta no seu sebo favorito. Quando presidia uma grande empresa, usava seu melhor terninho e, depois do trabalho, assistia às colações de grau que ocorriam no centro de eventos da universidade onde havia estudado. Sim, além de sebos e bibliotecas, amava frequentar as faculdades e ver aquela juventude cheia de sonhos jogando para o ar os surrados capelos emprestados pela universidade para as formaturas.
Aqueles jovens faziam Carol lembrar-se da época em que se formou e sonhou terminar a vida exercendo a mesma profissão que pensou amar até a aposentadoria. Na verdade, ela nunca deixou de gostar da sua carreira de contadora, ela apenas quis testar outras coisas, principalmente as letras, que ela amava tanto quanto os números. Carol tinha medo de que não houvesse vida após a morte e de que, por isso, não pudesse experimentar outras profissões em outras encarnações – é, embora não tivesse certeza sobre a vida eterna, a ideia sobre a reencarnação tornava Carol esperançosa, afinal, mesmo vivendo uma nova profissão a cada dia, poderia não ter tempo de vivenciar todas as que existiam enquanto ela era viva. Carol também tinha esperança de que, havendo outras vidas, pudesse conhecer funções já extintas ou ainda inexistentes, como datilógrafa ou operadora de robôs domésticos - o serviço de casa era uma das poucas profissões que Carol não havia experimentado, pois não tinha talento para cozinhar ou lustrar o chão. Estabanada como era, provavelmente se queimaria ou tropeçaria nas vassouras – só era organizada com seu guarda-roupas, afinal, toda manhã precisava escolher uma vestimenta para ser alguém na vida, e sempre havia alguém esperando por seus serviços. Carol havia ficado tão famosa que era esperada ansiosamente em várias lojas e repartições – todos, especialmente alguns jovens indecisos, queriam saber quais eram as melhores profissões a serem seguidas. Alguns só tinham curiosidade sobre o retorno financeiro de cada trabalho; outros, sobre a satisfação pessoal que cada profissão era capaz de proporcionar. Carol nem sempre sabia muito bem o que responder, mas estava sempre disposta a compartilhar um pouco daquilo que havia aprendido nessa sua troca diária de figurino.
Certo dia, sentindo-se “sabatinada” em meio a tantas perguntas, desconcertou-se quando uma jovem mulher perguntou a Carol se ela já havia repetido alguma profissão. Carol, que não era egoísta, não quis compartilhar esse segredo seu: tinha medo de que, se revelasse que ser bibliotecária era sua maior realização, a humanidade corresse para as estantes da biblioteca mais próxima e não soubesse o que fazer com tanta informação, tal qual seu escrito predileto, Jorge Luis Borges, havia profetizado em sua biblioteca de Babel.
Em silêncio, voltou para casa e vestiu-se de si mesma. Talvez fosse hora de aposentar os uniformes que, por anos, a mantiveram inteira – na próxima vez que saísse de casa, arriscar-se-ia a sair Carol – nem professora nem advogada, apenas Carol.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Síncope

Quando faltam as palavras, não há frase que exprima, sentimento que defina, poesia que conforte. Música, talvez, desde que sua melodia seja dodecafônica ou atonal, desde que sejam dissonantes os versos, metricamente compassados, que é para não perder o ritmo nem o trem das onze, aquele que separa Jaçanã dos corações saudosos.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Lagartas...

Ai, se eu contasse quantos blogs já fiz e quantos abandonei, quantas dores de cotovelo registrei e depois deletei. Sou mesmo, como diria Clarice Lispector, uma mulher inconstante e borboleta!

http://blig.ig.com.br/devaneioseanas/

http://www.fotolog.com.br/simplesmenteana_